Cegueira e rabeca: instrumentos de uma poética está entre os 117 projetos selecionados no edital Rumos Itaú Cultural 2015-16. Ele foi concebido com o objetivo de realizar uma pesquisa sobre os cegos rabequeiros cantadores, que terá como produto final a confecção e publicação de livro em 2017.

A rabeca é citada, ao lado da viola, como um dos instrumentos característicos do cantador nordestino (Coutinho Filho, 1953, p. 25; Cascudo, 2005, p. 193). Dos cinco cantadores abordados em "Cantadores: poesia e linguagem do Sertão Nordestino", figuram dois rabequeiros (Mota, 2002). Entretanto, a pesquisa prévia por cantadores que utilizam/utilizaram esse instrumento, revelou um número muito pequeno de artistas que o empregaram em suas práticas performáticas, quando comparado ao de violeiros.
De um total de seis rabequeiros identificados a partir de consulta à literatura e a alguns arquivos, verificamos que cinco deles eram cegos e cearenses; a exceção foi o potiguar Fabião das Queimadas. A primeira etapa do projeto correspondeu à visita a arquivos, bibliotecas e museus, assim como à realização de entrevistas com pesquisadores e pessoas próximas aos artistas que motivaram o desenvolvimento desta pesquisa: Cego Aderaldo, Cego Sinfrônio, Cego Oliveira e Zé Oliveira.
Foram visitados um total de vinte e dois locais, entre bibliotecas, arquivos (públicos e particulares), centros culturais, pontos de cultura, museus e locais históricos. Em alguns, obtivemos mais contatos do que materiais e dados para a pesquisa, como Centro Cultural Dragão do Mar e a Casa de Juvenal Galeno, em Fortaleza. Outros estavam de portas fechadas, devido a reformas ou a feriados, como a Academia de Cordelistas do Crato e o Museu da Imagem e do Som do Cariri, ambos na cidade do Crato.
Por outro lado, conseguimos adquirir material expressivo e significativo para a pesquisa em outras instituições, como o Museu da Imagem e do Som do Ceará, em Fortaleza, no qual pudemos realizar a cópia de três mídias diferentes
de Cego Oliveira, a Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, onde copiamos integralmente exemplares de folhetos de cordel referentes a romances e canções presentes no repertório do Cego Oliveira; e, ainda, a Discoteca do Centro Cultural São Paulo, na qual encontramos bibliografias importantes sobre a rabeca e descobrimos cantigas de cego e de pedinte, recolhidas pelas Missões Folclóricas de 1938.

Houve também instituições que não nos receberam nem responderam às nossas demandas por email, ou não puderam nos atender.
Ao longo da viagem, tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com muitas pessoas. Porém, em muitos casos a comunicação se deu de modo mais informal, de modo que preferimos não realizar registros audiovisuais nem anotações, para deixar a conversa mais solta. Por outro lado, em Fortaleza, entrevistamos os professores Gilmar de Carvalho - grande pesquisador das rabecas no estado e que conheceu pessoalmente o cego rabequeiro Zé Oliveira - e Oswald Barroso, que conviveu com o pai de Zé, Cego Oliveira. Ainda na mesma cidade, registramos o questionário realizado com o cineasta e pesquisador Rosemberg Cariry.

Na região do Cariri foi onde realizamos o maior número de entrevistas, especialmente em Juazeiro do Norte.
Pudemos conversar com seis pessoas próximas aos Oliveiras. No Crato, conversamos com o cantor e compositor Abdoral Jamacaru, que interpretou o personagem de Cego Aderaldo, em filme produzido por Rosemberg Cariry, e que conviveu, em sua infância, com o Cego Oliveira. Nessa cidade, ainda, conversamos com a cordelista Josenir Lacerda, que nos forneceu muitas informações a respeito da região do Cariri e sua cultura.

No Rio de Janeiro e em São Paulo não realizamos entrevistas.
Ao fim da primeira etapa, podemos afirmar que as viagens e pesquisas em campo foram altamente produtivas. Conseguimos visitar diversas instituições para a consulta de material variado. Pudemos encontrar e consultar registros de altíssimo valor, tanto bibliográfico como audiovisual. Chamamos a atenção aqui para as gravações realizadas por Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, em 1943, com os rabequeiros Cego Sinfrônio e o Cego Ferreirinha, este caracterizando um novo personagem descoberto nesta etapa da pesquisa.

Atualmente, estamos trabalhando sobre o material encontrado e obtido nas viagens e produzindo o texto do livro.