José Pereira da Silva nasceu cego, em 03 de fevereiro de 1943, no Sítio Cipó, em Juazeiro do Norte. Mais conhecido por Zé Oliveira, ou Mestre Zé, ele aprendeu a tocar rabeca ouvindo o pai, Cego Oliveira, que não queria que ele fosse tocar na rua. Entretanto, com o adoecimento do patriarca, deixando-o impedido de trabalhar, a família se encontrou em dificuldades financeiras e o filho decidiu, por volta dos doze anos de idade, ir se apresentar fora de casa. A partir de então, José seguiu no caminho da música, tocando em diversas ocasiões. Favorecido, de algum modo, pela religiosidade que marca sua cidade natal, ele pôde tocar frequentemente nas renovações e romarias de Juazeiro do Norte (Leandro, 2002, p. 33; Carvalho, 2009, p. 314).

Fazendo dupla com o pai, tocava fixamente, aos sábados, em Juazeiro do Norte, na Rua São Pedro, e, às segundas-feiras, na feira do Crato. Após a morte do companheiro, José continuou a se apresentar sozinho. Entretanto, diferente de Pedro, seu repertório na rabeca não parece ter sido tão extenso; conhecia menos romances que o progenitor: "Mariquinha" e "José de Sousa Leão", "O capitão do navio", "A Princesa Rosa" e "A menina
perdida" (Carvalho, 2009, p. 315). José morreu em 2009, com 66 anos de idade e, até onde se tem notícia, foi o último cego cantador rabequeiro nordestino.

Os registros musicais de Zé demonstram que ele tanto tocava a rabeca acompanhando o canto, como somente nos interlúdios, dependendo da peça. O CD 1 que acompanha o livro "Rabecas do Ceará", do professor Gilmar de Carvalho (2009) traz o "Bendito de Nossa das Senhoras das Dores" (faixa 19), enquanto que o CD 2, já pronto, mas não publicado com a primeira edição do livro, tem duas faixas do cego rabequeiro: "Abre a porta ou a janela" (faixa 1) e "Bendito de Nossa Senhora das Candeias" (faixa 33). Em todas elas, Zé Oliveira toca a rabeca enquanto canta, realizando também interlúdios instrumentais. Carlos Gomide Babau, mestre de mamulengo e também músico, conviveu com José e realizou alguns registros do rabequeiro, em 1987. Entre eles, uma versão diferente de "Abre a porta ou a janela" e "Tocando nessa rabeca" (Carlos nos cedeu, gentilmente, cópias desses registros). A seguir, apresentamos a transcrição do texto desta última peça:

Tocando nessa rabeca
Para o povo apreciá
A casa tá cheia de gente
Para o povo apreciá
Esse é o artista do povo
Já nasceu para rimá

Já nasci para rimar
Nas ondas do Cariri
Turistas do Ceará
Eu já estou por aqui (2x)

As ondas do Cariri
É terra da brincadeira (2x)
Tem o artista do povo
Que é o mestre Zé de Oliveira (2x)



O mestre Zé de Oliveira
Deu vivas ao cidadão (2x)
Ele tanto toca rabeca
Como toca violão
E também toca de pandeiro
Chegando a ocasião

Nasci pra fazer gravação
Para o povo apreciar (2x)
NIsso é o artista do povo
Que gostará de penar
Isso é o artista do povo
Sempre gosta de treinar
Nas duas, Zé toca rabeca enquanto canta, de modo semelhante àqueles que podem ser ouvidos nas gravações do livro do professor Gilmar (Carvalho, 2009), já citadas.

O projeto "Música do Povo Cariri" (2010), de autoria do músico Francisco Ferreira de Freitas Filho, o Di Freitas, incluiu alguns registros de Zé Oliveira, o primeiro, interpretando a "Canção do lenço" (faixa 27, CD 1), de Severino Pelado, e uma versão de "Minha rabequinha" (faixa 3, CD 2). Nessas produções, José aparece acompanhado por outros instrumentos. O rabequeiro está presente também no final do primeiro de três vídeos desse mesmo projeto, onde faz uma cantoria (versos improvisados). Nesse exemplo, Zé toca a rabeca apenas nos interlúdios entre as estrofes, à maneira da maioria dos cantadores nordestinos, e, às vezes, entre dois versos. Antes de realizar esse baião ritmado, ele costuma sobrepor notas produzidas com cordas abertas à última nota do último verso. A seguir, o vídeo, Zé aparece a partir de 7’ 05’’: